Alemanha restringe exportação de armas para Israel em meio à ofensiva em Gaza
Alemanha suspende exportações de armas que possam ser usadas em Gaza, em ruptura rara com seu apoio quase incondicional a Israel desde o pós-guerra.
O governo federal da Alemanha anunciou, nesta sexta-feira (8), a suspensão, por tempo indeterminado, das exportações de armamentos para Israel que possam ser utilizados na Faixa de Gaza.
A decisão foi comunicada pelo chanceler Friedrich Merz, que justificou a medida com base na “ainda mais dura ação militar” aprovada pelo gabinete de segurança israelense na noite anterior na região. Segundo informações do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o plano prevê que as Forças Armadas de Israel assumam o controle da cidade de Gaza.
Merz afirmou que, até nova ordem, não serão aprovadas exportações de equipamentos militares que possam ser usados no território palestino. Ele reforçou que a Alemanha continua “profundamente preocupada com o sofrimento contínuo da população civil” e que Israel tem agora “ainda mais responsabilidade” pela situação humanitária.
O chanceler defendeu que seja garantido amplo acesso para o envio de suprimentos, inclusive para agências da ONU e organizações não governamentais, e pediu que Israel evite qualquer passo em direção à anexação da Cisjordânia.
A mudança de postura marca uma ruptura rara em uma política externa moldada há décadas pela memória do Holocausto e pelo compromisso quase incondicional com Israel.
Culpa e responsabilidade
Até agora, Berlim havia se recusado a interromper as exportações de armamentos para Israel.
O tópico é delicado para os alemães, que lidam com a culpa pelo Holocausto promovido pelo regime nazista no país e sempre se colocaram como um aliado praticamente incondicional de Israel.
Mas as imagens recentes de crianças esfomeadas, os números avassaladores de mortes de civis e pressão crescente da comunidade internacional fizeram a Alemanha finalmente buscar arcar com sua responsabilidade ao fornecer armas para Israel.
Merz e o governo alemão continuam defendendo o direito de Israel de “se defender contra o Hamas”, mantêm a definição do Hamas como um grupo terrorista e não reconhecem crimes de guerra ou genocídio na região.
Israel hat das Recht, sich gegen den Terror der Hamas zu verteidigen. Die Freilassung der Geiseln und Verhandlungen über einen Waffenstillstand haben für uns oberste Priorität. Die Entwaffnung der Hamas ist unerlässlich – die Hamas darf zukünftig in Gaza keine Rolle spielen. 1/5
— Bundeskanzler Friedrich Merz (@bundeskanzler) August 8, 2025
Reação interna
Em outubro de 2023, o então governo do social-democrata Olaf Scholz chegou a ampliar as autorizações de vendas, após os ataques do Hamas que deram início a esse capítulo de um conflito que dura décadas.
De acordo com o Ministério da Economia, entre 7 de outubro de 2023 e 13 de maio de 2025 foram autorizadas exportações no valor de 485,1 milhões de euros, incluindo armas de pequeno porte, munições, bombas, equipamentos de proteção, software e sistemas eletrônicos. Em 2024, as licenças somaram 161 milhões de euros; entre janeiro e março de 2025, cerca de 28 milhões de euros.
Esses envios incluíram também armas antitanque, peças para armamentos, equipamentos para o Exército e Marinha, além de veículos blindados especiais. Parte do material, como submarinos, não teria aplicação no conflito em Gaza e, portanto, não seria afetada pela nova restrição.
A decisão alemã recebeu apoio interno do governo. O vice-chanceler e ministro das Finanças, Lars Klingbeil, classificou a medida como “correta”, afirmando que o sofrimento humanitário em Gaza é “insuportável” e que a ajuda deve chegar “o mais rápido e amplamente possível”. Ele ressaltou que a Alemanha mantém “total solidariedade” com Israel, mas que também é necessário apontar erros.
Já a copresidente do Partido Verde, Franziska Brantner, considerou a suspensão “apenas um primeiro passo”. Para ela, a ampliação da guerra decidida por Israel é uma “catástrofe” tanto para a população de Gaza quanto para os reféns mantidos pelo Hamas. Brantner defendeu que Berlim exerça mais pressão política para encerrar o conflito e a crise humanitária, garantir a libertação dos reféns e oferecer uma perspectiva política.
“A Alemanha não deve mais impedir uma ação europeia consistente nesse sentido, mas liderá-la”, afirmou.
Dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) indicam que, entre 2019 e 2023, Israel foi o 15º maior importador de armamentos do mundo, sendo abastecido principalmente pelos Estados Unidos (69% das compras), Alemanha (30%) e Itália (0,9%).
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