Alemanha restringe exportação de armas para Israel em meio à ofensiva em Gaza

Alemanha suspende exportações de armas que possam ser usadas em Gaza, em ruptura rara com seu apoio quase incondicional a Israel desde o pós-guerra.

Alemanha restringe exportação de armas para Israel em meio à ofensiva em Gaza
Photo by Maheshkumar Painam / Unsplash

O governo federal da Alemanha anunciou, nesta sexta-feira (8), a suspensão, por tempo indeterminado, das exportações de armamentos para Israel que possam ser utilizados na Faixa de Gaza. 

A decisão foi comunicada pelo chanceler Friedrich Merz, que justificou a medida com base na “ainda mais dura ação militar” aprovada pelo gabinete de segurança israelense na noite anterior na região. Segundo informações do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o plano prevê que as Forças Armadas de Israel assumam o controle da cidade de Gaza. 

Merz afirmou que, até nova ordem, não serão aprovadas exportações de equipamentos militares que possam ser usados no território palestino. Ele reforçou que a Alemanha continua “profundamente preocupada com o sofrimento contínuo da população civil” e que Israel tem agora “ainda mais responsabilidade” pela situação humanitária. 

O chanceler defendeu que seja garantido amplo acesso para o envio de suprimentos, inclusive para agências da ONU e organizações não governamentais, e pediu que Israel evite qualquer passo em direção à anexação da Cisjordânia.

A mudança de postura marca uma ruptura rara em uma política externa moldada há décadas pela memória do Holocausto e pelo compromisso quase incondicional com Israel.

Culpa e responsabilidade

Até agora, Berlim havia se recusado a interromper as exportações de armamentos para Israel. 

O tópico é delicado para os alemães, que lidam com a culpa pelo Holocausto promovido pelo regime nazista no país e sempre se colocaram como um aliado praticamente incondicional de Israel.

Mas as imagens recentes de crianças esfomeadas, os números avassaladores de mortes de civis e pressão crescente da comunidade internacional fizeram a Alemanha finalmente buscar arcar com sua responsabilidade ao fornecer armas para Israel.

Merz e o governo alemão continuam defendendo o direito de Israel de “se defender contra o Hamas”, mantêm a definição do Hamas como um grupo terrorista e não reconhecem crimes de guerra ou genocídio na região.

Reação interna

Em outubro de 2023, o então governo do social-democrata Olaf Scholz chegou a ampliar as autorizações de vendas, após os ataques do Hamas que deram início a esse capítulo de um conflito que dura décadas. 

De acordo com o Ministério da Economia, entre 7 de outubro de 2023 e 13 de maio de 2025 foram autorizadas exportações no valor de 485,1 milhões de euros, incluindo armas de pequeno porte, munições, bombas, equipamentos de proteção, software e sistemas eletrônicos. Em 2024, as licenças somaram 161 milhões de euros; entre janeiro e março de 2025, cerca de 28 milhões de euros.

Esses envios incluíram também armas antitanque, peças para armamentos, equipamentos para o Exército e Marinha, além de veículos blindados especiais. Parte do material, como submarinos, não teria aplicação no conflito em Gaza e, portanto, não seria afetada pela nova restrição.

A decisão alemã recebeu apoio interno do governo. O vice-chanceler e ministro das Finanças, Lars Klingbeil, classificou a medida como “correta”, afirmando que o sofrimento humanitário em Gaza é “insuportável” e que a ajuda deve chegar “o mais rápido e amplamente possível”. Ele ressaltou que a Alemanha mantém “total solidariedade” com Israel, mas que também é necessário apontar erros.

Já a copresidente do Partido Verde, Franziska Brantner, considerou a suspensão “apenas um primeiro passo”. Para ela, a ampliação da guerra decidida por Israel é uma “catástrofe” tanto para a população de Gaza quanto para os reféns mantidos pelo Hamas. Brantner defendeu que Berlim exerça mais pressão política para encerrar o conflito e a crise humanitária, garantir a libertação dos reféns e oferecer uma perspectiva política. 

“A Alemanha não deve mais impedir uma ação europeia consistente nesse sentido, mas liderá-la”, afirmou.

Dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) indicam que, entre 2019 e 2023, Israel foi o 15º maior importador de armamentos do mundo, sendo abastecido principalmente pelos Estados Unidos (69% das compras), Alemanha (30%) e Itália (0,9%). 

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